Criança com câncer ganha na justiça o direito a criopreservação para retornar dos mortos

Kim Suozzi - criopreservação após morte
Kim Suozzi – morreu alguns anos antes sabendo que ia ser congelada na esperança de voltar a viver graças à criopreservação de células estaminais (foto reprodução).

Você sabe o que é criopreservação de células estaminais? Eu não sabia, mas passei a saber após conhecer o desejo de uma garota de 14 anos em seu leito de morte. Ela escreveu uma carta de partir o coração pedindo para ser criopreservada. Por determinação da justiça o nome dela nem de seus pais não pode ser revelado. A foto acima é de outra garota congelada criogenicamente. A carta você verá mais abaixo.

O certo é que ela conquistou na justiça o direito a criopreservação de suas células estaminais. Ela tornou-se a primeira criança britânica a ser congelada criogenicamente, após uma longa batalha na justiça contra o pai. Você pode achar estranho alguém brigar na justiça para ser preservada em um tanque criogênico; eu também acho, mas vou explicar.

A menina estava com um câncer terminal e desejava muito aproveitar a vida, nem que fosse daqui a duzentos anos. Ela tinha esperança que a Medicina avançasse o suficiente para um dia ter cura para sua doença. Quando isso acontecesse, eles trariam seu corpo morto de volta a vida e a curariam.

Com esta firme convicção, a garota implorou ao juiz Peter Jackson para que permitisse a criopreservação de seu corpo. E ele acatou seu pedido da garota, cujos pais são divorciados e estavam brigando na justiça. As informações são do jornal britânico DailyMail.

E por que a briga entre o casal? É que a criopreservação de células estaminais não é barata. Para que a criança fosse congelada e assim permanecesse durante anos, o pai teria que desembolsar inicialmente 37 mil euros, algo em torno de 120 mil reais.

Daí a batalha na justiça. De um lado a mãe querendo satisfazer o desejo da filha. Do outro lado, o pai achava que isso era desnecessário, pois dificilmente a Medicina vai conseguir esta proeza. Além disso, o pai argumentava que mesmo que ela voltasse a viver em duzentos anos, seus parentes já teriam morrido e ela não lembraria de nada. Além do valor, o pai considerava também que a criopreservação é um processo brutal.

Depois de uma longa batalha na justiça, o juiz deu ganho de causa para a mãe da menina. Posteriormente ele visitou a garota no hospital e ouviu emocionado a menina chamá-lo de “meu herói”.

Carta comovente da menina pedindo para ser criopreservada

Carta pedindo criogenia

Tradução da carta mostrada na imagem acima:

Eu tenho apenas 14 anos e não quero morrer, mas sei que vou morrer. Eu quero viver mais tempo e acho que no futuro eles podem encontrar uma cura para o meu câncer. Quero ter esta chance. Este é o meu desejo.

Pediram-me para explicar por que eu quero fazer essa coisa incomum.

Eu tenho apenas 14 anos e eu Não quero morrer, mas eu sei que vou morrer.

Eu acredito que sendo criopreservada me dará a chance de ser curada e acordada mesmo que em centenas de anos.

Eu não quero ser enterrada no chão.

Eu quero viver e viver mais longamente e eu acho que no futuro eles podem encontrar uma cura para o meu câncer e me acordar.

A garota faleceu na Inglaterra em dia 17 de outubro.

Seu corpo foi então levado para Michigan, nos Estados Unidos e lá criopreservado. Encontra-se em uma das principais instalações de criogenia: Cryonics Institute. Fica perto de Detroit, onde seu fundador Robert Ettinger foi submetido a temperatura criogênica quando faleceu aos 92 anos. O mesmo aconteceu com os corpos mortos de suas duas esposas.

Criopreservação de células estaminais - Instituto de Criologia - Imagem do Fundador Robert Ettinger
Robert Ettinger, 92, foi congelado no Instituto de Criologia ao lado dos corpos mortos de duas esposas.

Cerca de 250 pessoas já gastaram somas milionárias para a criopreservação de suas células estaminais. O primeiro foi o Dr. James Bedford, em 1967.

O que é criopreservação de células estaminais

A criopreservação de células estaminais é a técnica de isolar e manter as células a baixas temperaturas para que toda a sua composição permaneça inalterada e a sua viabilidade mantida por tempo indefinido, de acordo com a Wikipédia. Para que tudo ocorra bem, eles injetam compostos anti-congelantes nos corpos mortos, impedindo por este processo que as células sejam danificadas, conforme descrito abaixo.

No momento que as amostras de sangue, que contém as células estaminais, chegam ao laboratório procede-se ao processamento  viabilidade, em que é feita a contagem celular que determina o número de leucócitos, o número de células mononucleadas e o número de células CD34+. Esta fase engloba, ainda, os testes que indicarão se a amostra está ou não contaminada por bactérias, vírus ou fungos. Após a separação celular, em que são separadas as células estaminais das várias células que constituem o nosso sangue, procede-se à fase da Criopreservação – cada amostra é devidamente identificada e rotulada procedendo-se, em seguida, a descida gradual de temperatura, a uma velocidade controlada dos 4ºC até aos 120ºC negativos. Em seguida a amostra é colocada num contentor de Azoto líquido à temperatura de 196ºC negativo, podendo ficar criopreservada por tempo indeterminado. O controlo de descida de temperatura diminui a possibilidade de perda de viabilidade celular da amostra evitando a formação de cristais de gelo no seu interior.

O que motiva os defensores do processo, – não sei se você acha válido, eu acho que não – é a esperança de que a ciência médica vai avançar o suficiente para trazer um corpo morto de volta à vida. Neste ponto, vale a pena citar uma passagem da Bíblia sobre morte: “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. (João 11:25).

Duas organizações principais dos EUA realizam criogenia: Alcor, no Arizona, e Cryonics Institute, Michigan.

Os opositores da criopreservação de células estaminais dizem que não vale a pena, porque órgãos como coração e os rins nunca foram congelados com sucesso e depois descongelados. Acham que não é possível recuperar corpos mortos sem danos irreversíveis.

Criopreservação é um tema popular em muitos filmes. Um dos bem conhecidos é Forever Young, (Eternamente Jovem) estrelado por Mel Gibson. Conta a história de um piloto de testes da Força Aérea dos Estados Unidos que fica desesperado quando sua namorada entra em coma irreversível. Desnorteado, ele concorda em servir de cobaia para um projeto, onde ficará congelado durante um ano. No entanto, ocorre um incêndio e o cientista-chefe morre, ficando o projeto secreto esquecido. O piloto só consegue voltar à vida cinquenta anos depois, quando dois garotos abrem acidentalmente a cápsula abandonada em um armazém militar.

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O importante é considerar que a morte nunca deve ser tratada como tabu, pois prejudica as crianças.