A dura realidade do tráfico de menores através do futebol

O tráfico de menores é uma triste realidade que está acontecendo no Brasil através do futebol. Muitos menores que sonham ser jogadores famosos são submetidos a condições degradantes e sem acesso à educação nas escolinhas ou centros de treinamento. Isso, na opinião de especialistas, caracteriza tráfico de pessoas.

O alerta vem da Rede Certa, por meio de sua campanha de prevenção ao tráfico de crianças e adolescentes no esporte, promovida pelo Consórcio Trama, que reúne entidades da sociedade civil de defesa dos direitos humanos.

A advogada Thaísi Bauer, representante do Consórcio Trama, explica que as condições em que são colocados os meninos que vão atrás do sonho de se tornar jogador de futebol normalmente não são vistas como escravidão moderna ou tráfico de pessoas, e sim como “parte do jogo”. Thaísi relata, porém, que os jovens passam por diversas violações de direitos, como falta de garantia de alimentação, dormitórios em péssimas condições de higiene e superlotados, abandono da escola e treinos de mais de dez horas por dia.

“Sociologicamente, o futebol é muito importante, não só aqui no Brasil como no mundo todo. E como a gente tem essa divulgação enorme na mídia, dos meninos que vão para fora e conseguem seguir carreira no futebol e ganhar muito dinheiro, a gente tem essa cultura dos meninos abandonarem as escolas e começarem muito cedo no futebol para tentar um lugar ao sol, mas 99% dos meninos que tentam a carreira de futebol não conseguem chegar a um time de sucesso”, ressaltou.

Segundo  ela disse para a Agência Brasil, o tráfico de menores é muito grande, com os meninos trazidos por “olheiros” do Norte e Nordeste para o Sudeste, onde estão os maiores times. “Vários fatores levam a isso, como as desigualdades sociais, econômicas e cultural, desconhecimento do perigo, falta de informação dos pais, ausência de perspectiva local, o sonho de conquistar o mercado internacional e a possibilidade de melhorar a vida da família. E a mídia só mostra casos de sucesso”, acrescentou.

Ela relata o caso ocorrido nas categorias de base do Vasco em 2012, onde um garoto mineiro, de 14 anos, teve um ataque epilético durante o treino e morreu no local, sem atendimento médico, após não ter recebido as duas últimas refeições. Thaísi também disse que muitos meninos são levados irregularmente para o exterior, onde correm o risco de serem abandonados pelo aliciador, caso não deem o retorno financeiro esperado.

(Imagem: Wikipédia)