Antônio Correia de Oliveira – A Preguiça

A Preguiça, inda de peito
Muito custou a criar!
Quase que morreu de fome,
Com preguiça de mamar.

Preguiça, já crescidinha,
Quando por seu pé andava,
Não era andar! mais par´cia
Que toda se espreguiçava…

Preguiça foi à lição:
Ler, escrever e contar?
Deixava a memória em casa,
Com preguiça de a levar!

Preguiça, foi confesar-se:
“Fez exame de consciência?”
“Não fiz, meu padre! mas faço-o
Amanhã … Tenha paciência.”

Preguiça aprendeu costura:
Mas, sempre que costurava,
Só para não pôr dedal,
Sempre os seus dedos picava.

A mãe ralhou à Preguiça
Porque se não penteara;
Torna-lhe ela: “Há quantos dias
É que a mãe não lava a cara?”

Preguiça, morta de sono,
Quase de sono morria:
Só por não fechar os olhos,
Quantas noites não dormia!

A Preguiça, muito a custo,
Fez a cama, e se deitou;
Para não mais a fazer,
Nunca mais se levantou.

A Preguiça abria a boca,
Coisa em que ela era mais certa:
Mas depois – p´ra não fechar –
Ficou sempre “Bôca-aberta”.

A Preguiça e o Desmazelo
Juntaram-se em casamento:
Levando os dois, em bom dote
Uma mancheia de vento.

Preguiça teve dois filhos:
Oh que santa geração!
A mais velha, Dona Fome;
O mais novo, Dom Ladrão.

Quando a Preguiça morrer;
Até o monte maninho,
Até fraguedos da serra
Darão rosas, pão, e vinho.

Esta poesia de Antônio Correia de Oliveira
foi criada em 1879
(Foto: Flickr – Jupisa)

10 replies to Antônio Correia de Oliveira – A Preguiça

  1. amei… eu queria muito ter essa poesia, pois ela fez parte do meu primeiro livro escolar, e ficou marcada essa poesia, lembrava alguns versos, mas agora vou tentar decorar. kkkkkk obrigada valeu!

  2. EU RECITEI ESSA POESIA EM 1962, FICOU NA MINHA MEMÓRIA. DE HÁ MUITO VIVIA PROCURANDO PARA REMEMORAR MINHA FASE DE ADOLESCENTE ESTUDANTIL E DA MINHA QUERIDA MESTRE INESQUECÍVEL PROFA.SANTINHA

  3. Minha tia, já falecida, leu esta poesia pra mim, tirada de um livro de ginásio da minha mãe. Eu tinha 8 anos de idade, e quase caí da cadeira de tanto rir. Até hoje me lembro dela quando estou com preguiça. Só não sabia que era de 1879. Obrigado!

  4. Olá Norberto, obrigado por seu comentário. Ficamos felizes. Continue acessando O Brasileirinho. Ah, ajude a divulgar entre seus amigos. O site está sempre atualizado.

  5. Declamei esta poesia em Piracicaba em 1958 com 11 anos de idade. Que bom que a encontrei … e que saudades dos tempos de criança… Obrigado!
    Norberto Varanda – Campinas/SP

  6. Obrigado, Etelvina, por seu comentário. Continue acessando O Brasileirinho. Sempre tem novidades.

  7. Estes versos estavam no meu livro de leitura da 4ª Classe e andei muito tempo à sua procura.
    Fiquei radiante!

  8. Que bom poder reler integralmente a poesia A PREGUIÇA, do meu tempo de Primário, lá no interior de Piçarras(SC). Dela, só me lembrava mesmo dos versos: A preguiça e o desmazelo/Juntaram-se em casamento. Não me lembrava do título, muito menos do autor. Maravilha!

  9. amei…sempre quis ter essa poesia, minha saudosa mãe a declamava de cor e eu vibrava!
    Cláudia Benatti – Osasco-SP

  10. amei…sempre quis ter essa poesia, minha saudosa mãe a declamava de cor e eu vibrava!
    Cláudia Benatti – Osasco-SP

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