Epidemiologista atribui epidemias de dengue à omissão do poder público

Brasília – O epidemiologista Edmilson Migowski, professor da Universidade Federal do Rio (UFRJ), atribuiu à negligência do poder público as epidemias de dengue ocorridas no país. Segundo Migowski, isso acontece em todos os níveis.

“Não combatem eficientemente o mosquito [Aedes aegipty, transmissor da doença], não dão explicações dos exames aos pacientes, não distribuem água nem soro oral nos corredores do hospitais. E a verba para pesquisa é insuficiente”, disse o epidemiologista, em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM.

Segundo ele, a dengue é uma das doenças mais bem estudadas, mas a população ainda não é suficientemente informada sobre algumas questões fundamentais: “Não existe um remédio antitérmico que tenha sido desenvolvido para a doença. Por falta de apoio, a gente não realiza esse tipo de pesquisa com segurança.”

Migowski lembrou também que ainda não existe uma vacina para combater a doença. O que há é um estudo para a vacina, que poderá daqui a quatro anos apresentar resultados. “A vacina tem uma formulação interessante. É uma vacina de vírus vivo atenuado, um vírus enfraquecido, portanto, tem algumas limitações de uso: as pessoas que forem imunodeprimidas, que tiverem um comprometimento da resposta imunológica não vão poder fazer esse tipo de vacina”, explicou.

Ele explicou que quem já teve qualquer tipo de dengue não está imune e pode contrair outro tipo, já que não existe proteção cruzada. “Quem teve o tipo 2 não terá mais o tipo 2, mas poderá ter os tipos 1, 3 e 4.”

O professor enfatizou que a população tem de ser melhor informada sobre o perigo de pessoas com suspeita de dengue tomarem algum medicamento que tenha por base o ácido acetilsalicílico, como a aspirina. “Esses medicamentos diminuem as funções da plaqueta, que é o elemento que está presente no sangue. Assim, elas tendem a ficar bastante reduzidas no paciente com dengue”, afirmou.

Para Edmilson Migowski, a melhor maneira de combater a doença ainda é exterminar a larva do mosquito. Mesmo porque, o vírus tipo 3, que predomina atualmente, tem um comportamento mais agressivo. No entanto, ainda prevalece a tendência de contrair a forma hemorrágica da doença, a pessoa que se infectar uma segunda vez, independentemente do tipo do vetor.

Ele afirmou que o temor agora o temor maior é que o vírus tipo 4 seja introduzido no Brasil. “Isso poderá agravar mais a situação, porque poderá contrair a doença uma população que já está exposta previamente aos vírus tipo 1, 2 e 3. Quando a dengue acomete mais de uma vez a mesma pessoa, a tendência é ter uma doença de maior gravidade”, advertiu.

Débora Xavier*
Repórter da Agência Brasil