Gesticulação contribui para a ampliação do vocabulário das crianças, segundo pesquisa

Uma pesquisa divulgada na revista Science e efetuada por pesquisadores da University of Chicago, nos Estados Unidos, concluiu que crianças com 14 meses de idade que gesticulam com mais frequência tem um vocabulário mais amplo, quando chegam à idade escolar.

O estudo, feito em crianças de 50 famílias de diversos segmentos sócio-econômicos da cidade de Chicago, consistia em filmar as crianças junto com seus pais ou com uma outra pessoa que cuidava delas, enquanto faziam diferentes tipos de atividades. As filmagens duravam até 90 minutos.

Uma matéria publicada na BBC, escrita por James Morganm dá mais detalhes:

Uma análise das filmagens mostrou que crianças de famílias de alta renda e alto nível educacional usaram gestos para expressar uma média de 24 coisas diferentes durante a sessão. Crianças de famílias de baixa renda, no entanto, usaram apenas 13 gestos.

Aos quatro anos e meio, as crianças voltaram a ser analisadas, e os estudiosos descobriram que as de famílias de alta renda alcançaram pontuação maior (117) em um teste padrão que mede o vocabulário quando comparadas a crianças de famílias de baixa renda (93).

Aprendizado

O estudo não estabelece uma relação de causa e efeito entre gesticulação em crianças pequenas e seu vocabulário alguns anos mais tarde.

Os pesquisadores também não descartam que outros fatores – como a forma como os próprios pais se expressam – tenham influência no vocabulário delas.

Pesquisas anteriores mostraram que pais mais ricos e com melhor nível educacional tendem a falar e ler mais para crianças pequenas, e usar palavras e sintaxe mais complexas ao falar com elas.

Mas os autores acreditam que existe uma ligação entre gesticulação e o desenvolvimento do vocabulário.

“A gesticulação da criança poderia cumprir um papel indireto no aprendizado de palavras ao provocar a fala dos pais em momentos específicos”, dizem os pesquisadores.

Por exemplo, respondendo a uma criança que aponta para uma boneca, uma mãe poderia dizer: “Sim, isto é uma boneca”.

Desta forma, a mãe produz uma palavra para o objeto que é foco da atenção da criança, ampliando o vocabulário dela.

“Mãos dadas”

O estudo é um dos primeiros a investigar se os gestos também influenciam o vocabulário e o grau de preparo para a vida escolar.

“Nossos resultados foram surpreendentes – nós constatamos que há na verdade mais gesticulação em famílias de faixas sócio-econômicas mais altas”, disse a pesquisadora Susan Goldin-Meadow, coautora do estudo.

“Gesto e fala andam de mãos dadas”, continuou.

“O vocabulário é chave na previsão de sucesso escolar e é uma das principais razões pelas quais crianças de famílias de baixa renda entram na escola com maior risco de fracasso do que seus colegas de famílias privilegiadas.”