Mídias digitais: espaço de ação discursiva da língua(gem)

O que se entende hoje por aquisição de linguagem? Certamente, para a maioria dos profissionais da educação, isto é um processo sociocultural; mais precisamente, ações que envolvem diálogos e construção de sentidos entre os sujeitos do discurso: alfabetizador e alfabetizando. Por outro lado, o que se entende por mídias digitais e quais são as suas contribuições para aprendizagem da Língua(gem) na sala de aula? Evidentemente não se pode deixar de entender que vivemos numa sociedade da informação; por sua vez nossos estudantes são agentes na/da língua(gem) e trazem consigo uma bagagem lingüística e cultural significativa para a construção do conhecimento, porém não encontram em sala de aula interlocutor à altura, tornando-se assim mais um a ser moldado conforme os ditames dos sistema educacional vigente.

Para Thompson (1998) o desenvolvimento dos meios de comunicação se entrelaçou de maneira complexa com um número de outros processos de desenvolvimento que, considerados em sua totalidade, se constituíram naquilo que hoje chamamos de ‘modernidade’. Diante disso, se quisermos entender os novos paradigmas educacionais em sua totalidade, devemos dar atenção especial aos usos que fazem os alunos das mídias digitais no espaço escolar e, sobremodo, no espaço não escolar; eles estão se letrando antes de serem alfabetizados.

O ponto nefrálgico desta discussão é de que nós só vamos melhorar o processo de formação de leitores e escreventes das séries iniciais à universidade, a partir do momento em que inferirmos quão impactante tem sido a ação das novas redes de comunicação e do fluxo de informação veiculado nos espaços não escolares, enquanto que no ambiente escolar ainda perduram discussões sobre os velhos métodos de alfabetização. Tomando-se a TV como exemplo mais real de mídia, é possível acreditar que se for bem usada levará à construção do conhecimento e, por conseguinte, a melhoria na qualidade da aprendizagem de língua(gem), uma vez que os alfabetizandos passariam de agentes passivo a cidadãos ativos no processo de aquisição de leitura e escrita, até porque estes teriam oportunidade de produzir texto orais (narração de seus conhecimentos sobre determinados assuntos veiculados nas mídias digitais: TV, Vídeo, cinema, internet) e, em seguida serem instigados a produzirem a escrita dessa experiências.

Assim, podemos ver as mídias como aliadas no fazer escolástico, uma vez que elas podem contribuir para modificar em muitos aspectos os pensamentos e atitudes das pessoas em termos de suas experiências cognitivas, suas crenças e opiniões, assim como seus comportamentos. (…). A mídia por si só não faz com que mudanças sociais e culturais ocorram. O maio impacto das mensagens de TV reside no esforço de valores sociais latentes através de outras forças na sociedade. (Egbon, 1982, p.187 apud Santaella 1996, p. 41).

Por certo, existe uma constante interação entre as práticas cotidianas de letramento do estudante e os diversos elementos sociolingüísticos oferecidos pelas mídias, no que se referem ao uso e as prática da língua(gem) fora do espaço escolar. Portanto, isso sugere que a escola ainda não está preparada para trabalhar e reconhecer esses saberes, bem como o lugar de onde esses sujeitos se pronunciam; o que é mais grave ainda é que ela não vê a emergência que se assenta na necessidade de validar tais processos como aquisição de conhecimento lingüístico e cultural do aprendiz de língua(gem), deixando lhe escapar grandes oportunidades de ampliar suas capacidades de formação escolástica dos alunos, os quais ainda lhes procuram com meio de interação e ascensão social e comunicativa. Conclui-se temporariamente, nas palavras de Mafesolli (2004), que é importante levar a sério o descaso para com os diversos ativismos que marcam a modernidade (midiática), evitando assim o equívoco de que aquilo que não depende de nós torna-se indiferente.

Robério Pereira Barreto

Professor da Uneb
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