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Trotes universitários violentos são crimes mas o castigo é difícil

Trotes universitários ocorrem da forma mais brutal e humilhante, no entanto, assim como tantos outros crimes ocorridos no Brasil, geralmente ficam impunes.

O professor Antonio Ribeiro de Almeida Junior, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Universidade de São Paulo (USP), disse que trotes universitários são, na maioria das vezes violentos. E o pior, fazem parte de processos enraizados e históricos em algumas instituições de ensino superior:

“São grupos de poder que usam o trote como processo de seleção para entrar no grupo. O trote é um mecanismo de exclusão, sem integrar ninguém. E divide os alunos, às vezes, para o resto da vida. A cultura do trote é bárbara. O trote precisa ser violento para exercer essa função de selecionar se aquela pessoa obedecerá às ordens e ficará em silêncio apesar das afrontas. O trote é uma porta escancarada para o processo de corrupção que temos na sociedade”.

Disse estas palavras durante audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo esta semana, conforme a Agência Brasil/ Elaine Patricia Cruz.

Trotes universitários violentos e status social

O professor, que estuda os trotes em universidades desde 2001, esses eventos são mais comuns em cursos que conferem mais status social. “Quais faculdades são as mais problemáticas? As que dão muito status social, como as faculdades de medicina, de engenharia e de direito, que dão poder social àqueles que entram nesses grupos.”

Para a antropóloga da USP Heloisa Buarque de Almeida, é difícil achar culpados, por trotes universitários violentos. “Alguns dos casos que estão aparecendo agora como escandalosos não acontecem só na Faculdade de Medicina da USP, mas também em outras universidades. E, diferentemente dos casos de estupro, é muito mais difícil achar quem são os culpados [nos trotes] porque são rituais em que, em um ano, o calouro sofre violência e, no ano seguinte, aquele mesmo aluno vai ser o cara que vai agredir o calouro. E são rituais muito estabelecidos e naturalizados nessas universidades”, avaliou a antropóloga.

Muitos dos casos de violência denunciados dentro da Faculdade de Medicina da USP ocorreram em festas organizadas por movimentos ou centros estudantis. Para a integrante do coletivo feminista Geni, criado no ano passado na Faculdade de Medicina para apoiar mulheres vítimas de violência, as denúncias recebidas pelo grupo “perpassam todas as instituições [associações de alunos e centros acadêmicos] ao longo de diversos anos”. “É um problema estrutural e não pontual da faculdade. São materializações da cultura machista e violenta”, enfatizou.

Jackson Rubem
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Jackson Rubem: Jackson Rubem, escritor e jornalista
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