Relançam 100 anos depois livro sobre cientista Vital Brazil

Foto de uma cobra cascavel pronta para o bote

O relançamento do livro A Defesa contra o Ophidismo, publicado em 1911, tem grande importância na história do nosso país, pois mostra a luta do cientista brasileiro Vital Brazil para conseguir o soro antiofídico.

O livro é um marco na produção científica brasileira, descrevendo os últimos anos do século 19 e a primeira década do século 20, culminando com a vitória de Vital Brazil na produção do soro que tantas vidas salvou.

O relançamento do livro publicado há cem anos aconteceu na última quinta-feira (28), na sede da Associação Médica Fluminense, em Niterói. É uma edição especial da obra de Vital Brazil publicada através de uma parceria entre o Instituto Vital Brazil (IVB), o Instituto Butantã e a Casa de Vital Brazil, que cuida da preservação da memória do cientista. A reedição também comemora os 146 anos de nascimento de Vital Brazil.

Em dois volumes, integrados em um estojo, o livro contém o fac-símile do original, com todas as suas ilustrações e fotografias e comentários de especialistas. Traz ainda a reprodução de documentos importantes, como uma carta do então presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, em agradecimento a Vital Brazil pelo recebimento de um exemplar da obra.

As pesquisas de Vital Brazil tiveram início quando ele percebeu que o soro descoberto em 1894, por cientistas franceses ligados ao Instituto Pasteur e ao Museu de História Natural de Paris, não poderia ser usado contra o veneno de qualquer tipo de cobra. “Na verdade, só era eficaz para o veneno da naja, serpente encontrada na Indochina”, diz Érico Vital Brazil, neto do cientista e presidente da Casa de Vital Brazil.

Vital BrazilSegundo a Agência Brasil/ Paulo Virgilio, o Brasil se expandia, na época, para o interior e a imensa população rural enfrentava o risco de vida representado pelas picadas de cobra. O ofidismo, acidente caracterizado pela picada de cobra venenosa, era um problema grave no país. Vital Brazil começou, então, a desenvolver os soros específicos para os venenos das serpentes brasileiras no Instituto Butantã, fundado por ele, em 1899. Em agosto de 1901, os primeiros soros antiofídicos já começavam a ser distribuídos à população.

A consolidação da soroterapia como defesa contra o ofidismo foi uma batalha difícil, segundo relata o neto do cientista. “Vital Brazil teve que lutar muito com relação à divulgação desse tratamento. O país tinha, na época, uma população com 80% de analfabetos, sem possibilidade de acesso à informação, e essa era a parcela mais atingida [por picadas de cobra], como é até hoje. Ele enfrentou uma série de dificuldades, até mesmo na obtenção de veneno para produzir soro. E não foi nada fácil ter uma quantidade suficiente de serpentes para a produção do soro”, relata Érico.

De acordo com o diretor científico do IVB, Luís Eduardo Cunha, um século depois, o livro A Defesa contra o Ophidismo é muito atual. “O resultado das pesquisas de Vital Brazil salvou e continua salvando muitas vidas”, diz. Para muitos estudiosos, a campanha do cientista brasileiro não teve paralelo no mundo até hoje, em relação a uma questão epidemiológica.

Fundado em 1919, por Vital Brazil, o IVB, hoje vinculado à Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil, é um dos 18 laboratórios oficiais brasileiros e um dos três fornecedores de soros contra o veneno de animais peçonhentos para o Ministério da Saúde.